sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Os rios, água e a vida na aldeia

A Ponte e o Monumento:

A Ponte


-Monumento da Ponte Salazar-

A Vida no Rio:

- A lavar a roupa no Regato da Fonte de Chafurdo-



-grupo de rapazes da Foz do Dão, depois do banho no Rio Mondego-



As Cheias do "Basófias" e do Rio Dão:



A Foz do Dão tinha grande manancial de àgua. Se outro não houvesse, bastavam os dois rios que banhavam a aldeia.

A água para uso doméstico provinha de uma fonte de chafurdo que ficava no meio do areal do rio Mondego. Água boa! No Verão, fresca como que saída de um frigorifico. de Inverno, tépida.

Sempre que havia enchente a fonte ficava submersa mas, a mãe natureza, não nos deixava sem água de boa qualidade, pois, logo que a fonte submergia, brotava uma bica na barreira do encontro do lado esquerdo da ponte.

Na decada de 60, a Autarquia, mandou abrir um poço e instalou ali uma bomba manual.

No entanto, e apesar deste poço se encontrar relativamente mais próximo das casas, a fonte, desde que disponivel, continuou a abastecer a aldeia.

Havia muitas outras bicas nas encostas e vales da terra que permitiam saciar a sede, mas, quando ela apertava e a bica ficava longe, havia sempre o recurso ao rio.

Dada a temperatura da sua água, as mulheres da aldeia, no Inverno, lavavam as roupas no regato da fonte.

Nas outras estações a lavandaria era instalada em qualquer parte dos rios.

No Verão, as pessoas das aldeias contíguas, especialmente de Travanca do Mondego, vinham à Foz do Dão lavar as suas roupas.

Também os moradores do Chamadouro, na mesma estação, vinham à aldeia encher as suas dornas.

É muito bom morar na próximidade da água. Tão bom, que o poeta um dia escreveu:
“É UM REGALO NA VIDA
À BEIRA DE ÁGUA MORAR
QUEM TEM SEDE VAI BEBER
QUEM TEM CALMA VAI NADAR”
Antes do desaparecimento da nossa terra, nós, pedindo desculpas ao poeta, poderiamos acrescentar:
“QUEM TEM FOME VAI PESCAR”

A Associação


-Edificio da “Escola Antiga”, nas margens do Rio Mondego-


A aldeia fundou no inicio da década de 40, a Associação de Melhoramentos e Progressos da Foz do Dão, tendo extendido uma sua Delegação à cidade do Rio de Janeiro - Brasil

É de realçar o facto de há 60 anos, uma pequena aldeia ter tido capacidade e espírito associativo, para se unir à volta da sua Associação, com o único intuito de melhorar as condições de vida da sua gente.

É certo que não o conseguiu em pleno, principalmente porque a construção da barragem foi desde sempre um entrave ao desenvolvimento da terra. Pensamos que os primeiros estudos técnicos remontam ao ano de 1938.

A Associação, apesar da desigualdade de forças, lutou com todas as suas armas para que aquela obra não fosse construída; fez tudo, a toda a gente pediu, para conseguir tal desiderato, e, na altura, havia gente no concelho que poderia ter obstado aquela construção, mas infelizmente, apesar dos muitos pedidos e de ter poder suficiente para a impedir, não o fez: certamente porque não quis.

Estavam então previstos para o rio Mondego, os aproveitamentos hidroeléctricos a seguir indicados:
• Asse-Dasse, Vila Soeiro, Girabolhos, Ervedal e Foz do Dão

Apesar de, segundo a previsão, a construção dos mesmos ser a ordem indicada, lamentavelmente para a terra, o único concretizado foi o da Foz do Dão, os outros, continuam por realizar. Neste caso, aplica-se com toda a propriedade, o principio de que “OS ULTIMOS SÃO OS PRIMEIROS”

Estamos convencidos que se fosse hoje, o empreendimento, teria alguma dificuldade de implantação naquele lugar, pois, procurando bem, não deixaríamos de encontrar por ali uma pintura rupestre, uma pegada de dinossauro ou um melro de bico amarelo que se recusaria terminantemente a nidificar fora daquele local.

Foi por tudo isto que a terra e as suas gentes começaram há muitas dezenas de anos a pagar caro o preço do progresso.

Desde o inicio do século XX que a Foz do Dão possuia escola primária. Esta funcionava numa residência junto ao rio Mondego, pertencente a José Sebastião Ferreira e servia a população estudantil da Foz do Dão, Chamadouro e Oveiro.

Não obstante a povoação continuar com a ”espada” da barragem sobre a cabeça, a Associação, cuja quota mensal começou por ser de 25 tostões, não estagnou e , entre outras coisas, dinamizou e/ou realizou mesmo, o seguinte:
A construção da nova Escola Primária, onde era ministrado o ensino até à 4ª. classe, hoje 1º ciclo. Os miudos de então eram muito estudiosos e respeitadores, porque, na escola, para os cábulas e mal educados, havia um apetrecho que dava pelo bonito nome de “menina dos 5 olhos”, e em casa, os pais, para além do pão possivel e muito amor, tinham umas quantas “mézinhas” capazes de incentivar o estudo e a boa educação. Ao que parece aquelas ”poções” desapareceram de um grande número de casas portuguesas. E é Pena.!

A construção desta escola foi aprovada por despacho do Conselho de Ministros de 15 de Julho de 1941, mas, por vicissitudes várias, só veio a estar concluída em 1949. Desta vez a escola só era frequentada pelas as crianças da Foz do Dão, dado que um habitante do Chamadouro, a expensas suas, construiu ali uma escola que passou a servir os povos do Chamadouro, Oveiro e Vale Couço;

A construção e manutenção da cantina escolar onde ao meio dia era servido às crianças mais necessitadas um prato de sopa e um pedaço de pão;


Outras das realizações levadas a cabo pela Associação, foram:

- A reparação da capela;

- A construção do novo cemitério, em virtude de o que ficava junto à capela ter esgotado a sua capacidade. O cemitério tinha uma área de 480 m2 e era circunscrito por muros de pedra argamssada com 2.00 de altura e 0.40 de espessura. A construção dos muros foi adjudicada a Urbano de Matos (sobrinho) da Foz do Dão, pela importância de Esc: 7.500$00 (37.50 euros). A surriba, ensaibramento e nivelamento foram adjudicados a Joaquim Marques de Oliveira, da Foz do Dão e a António Manaia, de Almacinha, pela quantia de Esc: 2.900$00 (14.50 euros).

- Calcetamento, com pedra do rio, de vários arruamentos;

- Comparticipação monetária no funeral dos sócios e familiares mais necessitados;

- Comparticipação nos livros escolares dos filhos dos sócios com maiores carências.

Para fazer face às despesas inerentes àqueles emprendimentos, a Associação, socorria-se das quotizações, do trabalho dos habitantes da aldeia, dos fundos remetidos pelos nossos conterrâneos emigrados em terras de Vera Cruz e também das autoridades.

A Associação, geria de forma rigorosa o dinheiro dos seus associados e benfeitores.

Para tanto, instituiu que todas as obras por si realizadas, tivessem orçamento, concurso público, caderno de encargos e adjudicação por escrito.

-grupo de habitantes da Foz do Dão, numa tarde soalheira de Domingo-

-modelo da Autorização de Pagamento em uso pela Associação-

Para ir recordando...

Recordação I:

Um dia, ou melhor um fim de tarde, lá para a longínqua década de 40, um miúdo com cerca de 7/8 anos, fazia regressar ao curral o seu pequeno rebanho.

O pastorinho e suas ovelhas, que vinham de ínsuas situadas na margem esquerda do rio Mondego, tinham de entrar e atravessar a ponte.

E de facto entraram, mas eis senão quando, numa curva, das duas existentes na ponte, aparece uma motorizada, talvez a primeira que ali passava naquele dia, e, ciclomotor, condutor e ovelhas, embrulham-se todos num aparatoso, mas Graças A Deus, inofensivo acidente.

O pastorinho entra em pânico, e, apesar do condutor e veículo se encontrarem estatelados no chão, e das suas ovelhas estarem todas direitinhas, vivinhas da costa, e de perfeita saúde, o nosso pequeno condutor de rebanhos, começa gritar com toda a força que os seus pequenos pulmões e cordas vocais permitiam:

“Oh gente da Foz Dão, acudam às minhas ovelhinhas, foi o Campos da Venda Nova que as matou”. Realmente era este o nome e a residência do interveniente no acidente.

Felizmente que as consequências foram uns pequeníssimos arranhões no veículo, mas a grande preocupação do pequeno pastor, eram as suas ovelhinhas e não os arranhões na motorizada do Sr. Campos.

Esta situação prova também que, na nossa terra, havia uma grande amizade e espírito de entre ajuda, por isso, o pequenino guardador de ovelhas, chamou por toda a gente da Foz do Dão, pois sabia que, independentemente de quem aparecesse, o socorro estava garantido; para todos, naturalmente.

Ainda hoje, decorridos cerca de 60 anos, o pessoal da terra quando se junta e acontece algo de mais insólito, desde que cómico, continua a bradar: OH GENTE DA FOZ DÃO ......, incluindo o antigo pastor.


Recordação II:

Na aldeia não haviam só brincadeiras inofensivas, também as havia bem maldosas e pouco cristãs. Senão vejam:

A rapaziada nova, de vez enquanto, apetecia-lhe comer um galináceo pica no chão, (não havia dos outros) fora do horário normal das refeições e a custo zero.

Para satisfazer aquele apetite, juntavam-se uns quantos marmanjos e há que roubar o bicho ou os bichos, dependendo dos comensais.

Um domingo, à tardinha, 3 mariolas, resolveram que iriam merendar galinha refogada, e como as galinhas tinham a mania de se passear alegres e contentes pelas ruas da terra, lá apanharam uma debaixo da ponte.

Depois de lhe tirarem a alegria e a mania do passeio, embrulharam-na numa camisola e foram prepará-la para a eira de um dos gabirus. Comeram e beberam e lá foram cada um para suas casas dando as mais variadas desculpas para a falta de apetite para a ceia (era assim que se chamava o jantar)

Na segunda-feira seguinte, uma velhinha, acusou o roubo alegando que era a melhor ave que tinha no capoeiro e que estava guardada para o seu filho, que chegaria em breve do Brasil.

No sábado dessa mesma semana, um dos comedores, verificou que numa rua da aldeia, estava morta uma galinha parecida com a devorada. Nessa noite, foram buscar a dita e colocaram-na à entrada do capoeira da roubada com o intuito de fazer crer à velhinha, que se tratava da sua galinha.

No domingo madrugaram para observar se a tentativa do logro tinha tido sucesso e, qual não foi o seu espanto, quando viram a velhota com uma enchada às costa, e a galinha pendurada por uma pata, dizendo para os circunstantes, entre os quais os ladrões:

“Que Deus me perdoe os falsos testemunhos que levantei, coitadinha,
Ainda teve forças para vir morrer ao poleiro” e lá foi enterrar a galinha.

Ora, o mínimo que as “aves de rapina” deveriam ter feito era tirar-lhe a enchada e a galinha e ir enterrá-la, mas, concerteza que não o fizeram para não se denunciarem como autores do furto. Que Deus Lhe perdoe.

Numa outra altura, comensais diferentes, deliciaram-se com uma galinha, preta, de um outro capoeira.

Passados alguns dias, um dos participantes na comezaina, ouviu esta conversa da roubada para uma sua amiga:
- Oh fulana, lembras-te daquela galinha preta que eu dizia que me tinham roubado? Já apareceu, andou fugida, mas olha que ela não volta a fugir, já a matei e comi parte.
Claro que a galinha que matou e comeu não era sua mas de uma de outra pessoa que, mais tarde, veio a acusar o roubo.
-Grupo de rapazes, junto a uma das” Rodas de tirar Água”, existentes na Foz do Dão-

As Festas

A Foz do Dão tinha uma antiga e bonita Capela, dedicada a Nossa Senhora da Piedade.

Junto à Capela existia um cemitério dos princípios do século XIX.
De resto, era a única povoação da freguesia de Óvoa, para além desta naturalmente, que possuía um cemitério para sepultar os seus mortos.

A Nossa Senhora da Piedade era a Padroeira da Foz do Dão.
As festas em sua honra tinham lugar no dia 31 de Agosto. Eram festas muito afamadas na região. Um ano, lá muito longe! a festa foi de arromba, com o então famoso e caro conjunto musical “OS MELROS DO TROVISCAL”.

Também, se comemorava o mártir São Sebastião no dia 20 de Janeiro.
A festa em honra de São Sebastião era mais simples que a da Padroeira, normalmente, neste dia havia missa de manhã e, um rancho melhorado: arroz de cabidela de galinha que se conhecia o cantar e, à noite um bailarico, abrilhantado por na altura famosos artistas da praça, designadamente: o “Ceguinho de Chelo” e o “Carelhas”.


Ao remexer em antigos livros da Capela, encontrei um datado de 1875, no qual se refere um empréstimo à Capela de Santa Eufêmia no valor de 60 mil reis, com juro de 5%! (segundo as anotações daquele velho livro, os 60 mil reis foram entregues pelo Sr. Joaquim Marques, do Chamadouro, no dia 31 de Agosto de 1875)

E, não é que no dia 26 de Setembro de 1964, o empréstimo foi liquidado, tendo a Capela da Foz do Dão recebido, também, o juro de 90 anos (270 escudos)!


As gentes da Foz do Dão festejavam com grande fervor as festas do Natal e Páscoa.
De facto, no dia de Natal havia missa na localidade e muita gente se recordará do Ti Joaquim Mariano, há muito falecido, cantar com voz forte, tom muito alto e grande devoção o BENDITO E LOUVADO SEJA ....

Era tradição da terra “tirar as Janeiras”.

Assim, cerca das 20H00 do dia 31 de Dezembro, juntavam-se os homens da terra, alguns com instrumentos musicais - tinha fama a tuna da Foz do Dão - quem nunca ouviu falar no Zé da Rabeca? e, iam tocar e cantar de porta em porta pedindo as Janeiras. A dona da respectiva casa metia no saco de linhagem que um elemento do grupo transportava, carne de porco, chouriças e morcelas.
Enquanto decorria o peditório, 2 ou 3 elementos mais novos, tratavam de ir roubar as couves (de cortar) na melhor horta da terra. O dono destas também as saboreava, mas, no dia seguinte, ficava a saber que comeu, e lhe comeram, as suas couves.
As carnes e enchidos oferecidos e as couves roubadas eram entregues ao Ti Arnaldo, que tratava de fazer um delicioso cozido à portuguesa.
O vinho e o pão eram pagos por todos.
O repasto terminava já muito dentro do Ano Novo

Era também a festa dos pinhões, não dos comprados no supermercado, mas daqueles que, percorrendo-se dezenas de quilómetros em bicicleta, se iam apanhar as pinhas mansas que se abriam em fornos a lenha, e cujo invólucro se partia com os dentes, ou com uma pedra.

Na segunda-feira de Páscoa, antes do compasso, havia missa na aldeia.
O dia de Páscoa era dia de “tirar” o folar aos padrinhos, tratava-se de um grande bolo de trigo com dois ovos cozidos em cima. Este bolo, por ser de trigo, era muito apreciado, uma vez que durante todo o ano o que se comia era broa de milho, e, nas épocas más, que eram muitas, até de cevada e aveia.

Duma maneira geral as gentes do Chamadouro e do Oveiro assistiam às missas de Natal e da Páscoa na Foz do Dão.
Também o Carnaval tinha alguma implantação na terra.
Na altura não havia corsos, e as tangas – de tecido e outras – eram ainda inexistentes.

Temos que convir que as “carnavaladas” da Foz do Dão eram muito pouco caritativas, senão reparem:

O BADALO:
Num fio com cerca de 60 cm atava-se uma grande pedra; este fio era pendurado na aldrava da porta de um residente, e um outro fio, com muitos metros, era atado àquele na sua prependicular.

A grande distância do local do “crime”, meia dúzia de “marmelos” – que nos desculpem os verdadeiros marmelos - puxavam e aliviavam o fio comprido, fazendo com que a pedra batesse com grande estrondo e muitas mossas, na porta do feliz comtemplado.

Escusado será dizer que o morador acordado daquela sonora maneira, mimoseava os “badaladores” com todos os nomes que se possam imaginar e, não poucas vezes tentava ir na sua peugada com a óbvia intenção de lhes fazer alguns carinhos. No entanto, esta brincadeira ? era sempre feita pelos mais jovens, os quais, como é evidente, tinham grande facilidade em dar corda não aos sapatos, mas aos pés.

Naquela altura não havia portas de aluminio ou de madeira fina, normalmente eram portas feias, fortes e rijas, aliàs, as mais vulneráveis à pedrada, eram poupadas naturalmente;

A ARRUAÇA:
Alta noite, no cimo de um monte (também se chamava ir ao cabeço) sobranceiro à povoação, 4 ou 5 homens munidos de um grande funil que fazia de megafone e distorcia a voz, gritavam a plenos pulmões as fofocas da terra, sem nunca referirem quaisquer nomes. No dia seguinte, o grande assunto na aldeia era tentar descobrir quem eram os pregoeiros e os visados.

Começava sempre assim: OH CAMARADA e aquele ou aquela que - seguia a noticia – apesar de o termo camarada na altura ter conotações muito perigosas, ali, por esse facto, nunca houve qualquer problema.

SERRAÇÃO DA VELHA:
Ocorria no meio do período entre o Carnaval e a Páscoa.

De noite, alguns homens, munidos de um cortiço velho e um serrote de carpinteiro, iam para junto da casa de uma idosa do lugar e, serrando o cortiço, um perguntava! oh fulana a quem deixas o pinhal X ? um outro respondia! é ao meu filho, filha, neta, neto etc... fulano. A ladainha continuava até que fosse testamentada toda a herança da velha serrada.

Duma maneira geral esta brincadeira era bem aceite pela visada, mas, às vezes, havia a tentativa de interrupção do testamento com o arremeço de coisas muito esquesitas.
-Documento do empréstimo, com a assinatura do Pároco daquele tempo – Exmo Senhor Prior Joaquim Borges Sobral-


-Capela da FOZ DO DÃO, ao lado está o Cemitério antigo-

Foz do Dão e a pesca


Outras formas de pesca:

FACHA – Pesca feita de noite, normalmente nos meses de Abril, Maio e Junho.
Um pescador transportava o facho de luz e outro um arpão de dentes muito finos. Andavam de jusante para montante em águas pouco profundas e correntes. O peixe ficava encandeado (parado) com a luz e era fisgado.
As fontes de luz começaram por ser pinhas a arder em cestas de rede de capoeira, mais tarde passaram a ser gasómetros (utensilios muito usados antigamente nas minas) e mais recentemente (há cerca de 30 anos) com candeeiro (petromax).
Esta pesca era proíbida.

CEVADOIRO – Pesca feita de noite, no Verão.
Consistia em engodar, (bolas de farelo amassadas com borras de azeite), determinado local do rio de águas paradas, e, ao cair da noite o pescador ia lançar a rede (tarrafa) sobre o local previamente a engodado.
Também era proibido

À MÃO – Pesca também de Verão até porque era necessário andar completamente metido na água.
O peixe, normalmente barbos, depois das águas terem sido “batidas” pelos pescadores à rede, tinha tendência a esconder-se sob as pedras, desde que o posicionamento destas o permitisse.
O pescador metia as mãos debaixo daquelas e lá trazia alguns exemplares, deixando, quase sempre, fugir muitos mais.

COM GUELRICHO – Tampem, de noite e de Verão. Era uma armadilha feita de rede de malha fina, com cerca 70 cm de comprimento e 25 de diâmetro, onde se colocava o isco (pequenos peixes secos), lançada no rio com a entrada virada para a foz e presa com uma pedra para que ficasse no fundo.
Com estas armadilhas pescavam-se essencialmente enguias e às vezes pequenas mas incomodas cobras de água

COM CORDA – Também, de noite tratava-se de uma armadilha para enguias.
Numa corda, com 4/5 metros de comprimento, colocavam-se vários anzois com isco igual ao dos quelrichos. Lançava-se no sentido prependicular à corrente com uma pedra atada em cada extremidade, sufientemente pesadas para que não fosse possivel o seu arrastamento.

DE ARREGANHO – Com frio em sentido literal. No inverno, em dias de grandes camadas de geada, os peixes (barbos) juntavam-se em cardume em águas de profundidade não muito superior a 1 metro, em locais onde houvesse grande incidência de raios solares e ali ficavam praticamente parados. Descoberto o local do arreganho era só lançar sobre ele a rede (tarrafa).
Pesca proibida

COM AZORRA PRA TRÁS – Pesca ao sável, de noite na Primavera.
O azorra pra trás foi inventado por um residente da Foz do Dão.
Consistia num aro de verguinha rodeando uma rede de capoeira com um metro de profundidade e 1 metro de diametro, atado numa vara comprida.
Os Savéis, para desovar juntavam-se em zonas de forte corrente do rio e faziam ruidosos movimentos quase á superficie. O nosso inventor, conhecedor desta faceta do peixe, ancorava o barco na zona onde supostamente se ia dar a desova, e quando esta de facto ali ocorria, lançava o aparelho e podia apanhar de uma só vez vários peixes.

Os pescadores mais velhos e experientes da aldeia, quando viram a “engenhoca” riram-se, e acreditavam tanto na sua eficácia, que alguns se voluntariaram para comerem crus todos os sáveis pescados “naquilo”. O certo é que, na primeira noite, a pesca com aquele aparelho rendeu 7 exemplares. Contudo, talvez por se tratar de uma especie com muitas espinhas e escamas, ninguém teve coragem de comer sável cru..

NA BRULHA – Local de desova, pesca normalmente durante o mês de Março, aliàs há um ditado popular que diz “no Dia de S. José (19.03) ou na brulha ou ao pé).
Trata-se de facto da desova do peixe, normalmente bogas.
Os peixes juntavam-se em cardume, em local pedregoso, com corrente forte, com altura de água de mais ou menos de 20/30 cm, para desovar, nessa altura, os pescadores lançavam as redes (tarrafas) sobre a brulha e pescavam grandes quantidades de peixe.
Pesca proíbida.






Pesca à fisga

A lampreia fixava-se com a ventosa (boca) às rochas no fundo do rio e o pescador, com muito equilibrio, boa visão e melhor pontaria, lembro que nesta altura, primeiros meses do ano, os rios tinham muita água e forte corrente, lá trazia, na maior parte dos casos, a lampreia para dentro do barco.

Esta lampreia, por ser picada e perder sangue, era de qualidade inferior à dos pesqueiros fixos, e, consequentemente, quando vendida, era mais barata.

A pesca à fisga era proíbida e na altura, o guarda rios, um santacombadense, aquando da sua ronda pela zona, obrigava os fisgadores da Foz do Dão a terem olho vivo e barco ligeiro para não serem apanhados em contravenção.

A pesca de barbos e bogas era feita por um par de homens - alguns felizmente ainda vivos - em cada barco, os quais pela madrugada, para não dizer de noite porque era proíbido, com barcos e redes (albitanas e tarrafas) se entregavam à faina.

De manhâ, as peixeiras, (mulheres que vendiam o peixe) iam ter com os pescadores ao rio (em local combinado com estes no dia anterior) buscar o produto da faina e, carregando à cabeça as cestas com muitos quilos de peixe, subiam por veredas as ingremes encostas, até chegarem àquilo que na altura se chamavam estradas.

Depois, na maior parte das vezes a pé, calcorreavam essencialmente os concelhos de Santa Comba Dão, Tondela e Viseu – para o último já utilizavam carreira (autocarro) - vendendo o peixe. Vida dura a destas mulheres! Algumas ainda vivas Graças A Deus.

Regressadas a casa, muitas vezes já alta noite, cansadas, com os pés pisados pelos muitos quilómetros percorridos, era vê-las felizes com o pequeno lucro de 9 ou 10 escudos alcançado, mas animadas, para no dia seguinte repetirem os mesmos sacrificios, para poderem contribuir, nalguns casos exclusivamente, para o sustento das suas famílias.

Havia na Foz do Dão outras formas de pesca, tais como:“À facha, ao cevadoiro, à mão, com guelrricho, com corda, de arreganho, com azorra pra tràs, na brulha (desova) etc..”

- Pesca à fisga, no Rio Mondego-

Aldeia da Foz do Dão - II

A Foz do Dão era essencialmente piscatória, tinha os únicos pesqueiros fixos desde a Figueira da Foz, onde se pescava, em grande abundância, podemos dizer aos milhares por época, as saborosas e, então bastante baratas, lampreias.

Ainda me lembro, como o diz o anúncio, de se comprar, em ano de grande bastança e no final de época, um exemplar por 25 tostões! Nas tabernas do Sr. Carlos e do Ti Arnaldo, nos meses de Janeiro a Abril e, apesar de todas as insuficiências da aldeia e por conseguinte destas casas, eram servidas centenas de refeições de lampreia (só se confeccionavam por encomenda) chegando a vir pessoas propositadamente de Lisboa, comer os ciclóstomos.

Aliàs, no livro de culinária “COZINHA TRADICONAL PORTUGUESA”, da autoria de Maria de Lurdes Modesto, consta uma receita de “lampreia à Fozdão” o que, naturalmente, não deixa de comprovar a boa qualidade da cozinha da Foz do Dão. Também, se pescavam ali bogas, barbos, enguias e sáveis em grande quantidade.

No rio Dão (antes da sua foz), havia um dos referidos pesqueiros e na margem esquerda do respectivo açude, havia um moinho (moenda) onde era moído milho, trigo, centeio e cevada produzidos nos terrenos da Foz do Dão e nas aldeias circundantes e que os moleiros carregavam para as moendas nos seus cavalos e burros. Igualmente, a cerca de 300 metros a montante da foz, mas no rio Mondego, havia mais uma moenda e pesqueiro

Ao cima daqueles, quer no rio Dão quer no Mondego haviam mais moinhos e pesqueiros, mas que, óbviamente, pescavam muito menos quantidade de peixe. Havia anos, quando as enchentes dos rios eram pequenas, que ali não chegava uma lampreia sequer.

A grande quantidade de lampreias eram pescadas nos pesqueiros fixos, digamos 99%, mas também havia a pesca à fisga (um arpão com seis dentes) fixado na ponta de uma vara e com o pescador de pé na ré do barco.

Moenda, movida com a água represada pelo açude do Rio Dão

-Açude do Rio Dão, nas suas extremidades situavam-se os pesqueiros-

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

ALDEIA DA FOZ DO DÃO (I)

FOZ DO DÃO:

Para os mais jovens, com menos de 30 anos, o nome desta povoação nada ou muito pouco lhes dirá.

Para matar saudades aos mais velhos, lembrar os mais novos e deixar recordações aos vindouros, propomo-nos, tratar aqui algumas das caracteristicas da terra e das gentes, daquela que foi uma das mais bonitas aldeias do Concelho de Santa Comba Dão.

A Foz do Dão ficou submersa pelas águas da Barragem da Aguieira, pensamos que em Junho de 1980, quando do fecho das respectivas comportas.

Foi ela que, desaparecendo, pagou o preço mais elevado pelo desenvolvimento turistico do nosso concelho. Houve outras, mais pequenas, que tambem foram submersas; Senhora da Ribeira e Breda.

Ficava localizada a sul de Santa Comba Dão, entre os rios Mondego e Dão.

Tinha, na confluência dos rios, uma lindissima praia de areias finas e águas límpidas. Se hoje existisse, estamos certos, seria um destino turistico por excelência.

A Foz do Dão, na altura, era chamada a “SALA DE VISITAS DE SANTA COMBA DÃO”, apesar de não ter água canalizada, saneamento, nem electricidade.

Antes de ali ser construída, sobre o rio Mondego, a Ponte Salazar - inaugurada em 17 de Outubro de 1935 - as ligações entre os Concelhos de Santa Comba Dão, de Penacova e Mortágua eram feitas por uma grande barca (passavam nela animais de grande porte como bois e burros).
Era, também, nesta barca que várias mercadorias, designadamente sal, passavam do concelho de Penacova para o de Santa Comba Dão; mercadorias essas carreadas até ela e depois dela em carros de bois.
Depoís de concluida a contrução da Ponte, a barca grande foi desactivada e, a ligação ao Concelho de Mortágua passou a fazer-se através de um barco significativamente mais pequeno.


Tratava-se de uma aldeia essencialmente piscatória onde se situavam os primeiros pesqueiros fixos a partir da Figueira da Foz.


Vista parcial da FOZ DO DÃO, em 1965

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Um postal de outros tempos








Hoje a Foz do Dão já só "vive" na nossa memória!