A Foz do Dão tinha uma antiga e bonita Capela, dedicada a Nossa Senhora da Piedade.
Junto à Capela existia um cemitério dos princípios do século XIX.
De resto, era a única povoação da freguesia de Óvoa, para além desta naturalmente, que possuía um cemitério para sepultar os seus mortos.
A Nossa Senhora da Piedade era a Padroeira da Foz do Dão.
As festas em sua honra tinham lugar no dia 31 de Agosto. Eram festas muito afamadas na região. Um ano, lá muito longe! a festa foi de arromba, com o então famoso e caro conjunto musical “OS MELROS DO TROVISCAL”.
Também, se comemorava o mártir São Sebastião no dia 20 de Janeiro.
A festa em honra de São Sebastião era mais simples que a da Padroeira, normalmente, neste dia havia missa de manhã e, um rancho melhorado: arroz de cabidela de galinha que se conhecia o cantar e, à noite um bailarico, abrilhantado por na altura famosos artistas da praça, designadamente: o “Ceguinho de Chelo” e o “Carelhas”.
Ao remexer em antigos livros da Capela, encontrei um datado de 1875, no qual se refere um empréstimo à Capela de Santa Eufêmia no valor de 60 mil reis, com juro de 5%! (segundo as anotações daquele velho livro, os 60 mil reis foram entregues pelo Sr. Joaquim Marques, do Chamadouro, no dia 31 de Agosto de 1875)
E, não é que no dia 26 de Setembro de 1964, o empréstimo foi liquidado, tendo a Capela da Foz do Dão recebido, também, o juro de 90 anos (270 escudos)!
As gentes da Foz do Dão festejavam com grande fervor as festas do Natal e Páscoa.
De facto, no dia de Natal havia missa na localidade e muita gente se recordará do Ti Joaquim Mariano, há muito falecido, cantar com voz forte, tom muito alto e grande devoção o BENDITO E LOUVADO SEJA ....
Era tradição da terra “tirar as Janeiras”.
Assim, cerca das 20H00 do dia 31 de Dezembro, juntavam-se os homens da terra, alguns com instrumentos musicais - tinha fama a tuna da Foz do Dão - quem nunca ouviu falar no Zé da Rabeca? e, iam tocar e cantar de porta em porta pedindo as Janeiras. A dona da respectiva casa metia no saco de linhagem que um elemento do grupo transportava, carne de porco, chouriças e morcelas.
Enquanto decorria o peditório, 2 ou 3 elementos mais novos, tratavam de ir roubar as couves (de cortar) na melhor horta da terra. O dono destas também as saboreava, mas, no dia seguinte, ficava a saber que comeu, e lhe comeram, as suas couves.
As carnes e enchidos oferecidos e as couves roubadas eram entregues ao Ti Arnaldo, que tratava de fazer um delicioso cozido à portuguesa.
O vinho e o pão eram pagos por todos.
O repasto terminava já muito dentro do Ano Novo
Era também a festa dos pinhões, não dos comprados no supermercado, mas daqueles que, percorrendo-se dezenas de quilómetros em bicicleta, se iam apanhar as pinhas mansas que se abriam em fornos a lenha, e cujo invólucro se partia com os dentes, ou com uma pedra.
Na segunda-feira de Páscoa, antes do compasso, havia missa na aldeia.
O dia de Páscoa era dia de “tirar” o folar aos padrinhos, tratava-se de um grande bolo de trigo com dois ovos cozidos em cima. Este bolo, por ser de trigo, era muito apreciado, uma vez que durante todo o ano o que se comia era broa de milho, e, nas épocas más, que eram muitas, até de cevada e aveia.
Duma maneira geral as gentes do Chamadouro e do Oveiro assistiam às missas de Natal e da Páscoa na Foz do Dão.
Também o Carnaval tinha alguma implantação na terra.
Na altura não havia corsos, e as tangas – de tecido e outras – eram ainda inexistentes.
Temos que convir que as “carnavaladas” da Foz do Dão eram muito pouco caritativas, senão reparem:
O BADALO:
Num fio com cerca de 60 cm atava-se uma grande pedra; este fio era pendurado na aldrava da porta de um residente, e um outro fio, com muitos metros, era atado àquele na sua prependicular.
A grande distância do local do “crime”, meia dúzia de “marmelos” – que nos desculpem os verdadeiros marmelos - puxavam e aliviavam o fio comprido, fazendo com que a pedra batesse com grande estrondo e muitas mossas, na porta do feliz comtemplado.
Escusado será dizer que o morador acordado daquela sonora maneira, mimoseava os “badaladores” com todos os nomes que se possam imaginar e, não poucas vezes tentava ir na sua peugada com a óbvia intenção de lhes fazer alguns carinhos. No entanto, esta brincadeira ? era sempre feita pelos mais jovens, os quais, como é evidente, tinham grande facilidade em dar corda não aos sapatos, mas aos pés.
Naquela altura não havia portas de aluminio ou de madeira fina, normalmente eram portas feias, fortes e rijas, aliàs, as mais vulneráveis à pedrada, eram poupadas naturalmente;
A ARRUAÇA:
Alta noite, no cimo de um monte (também se chamava ir ao cabeço) sobranceiro à povoação, 4 ou 5 homens munidos de um grande funil que fazia de megafone e distorcia a voz, gritavam a plenos pulmões as fofocas da terra, sem nunca referirem quaisquer nomes. No dia seguinte, o grande assunto na aldeia era tentar descobrir quem eram os pregoeiros e os visados.
Começava sempre assim: OH CAMARADA e aquele ou aquela que - seguia a noticia – apesar de o termo camarada na altura ter conotações muito perigosas, ali, por esse facto, nunca houve qualquer problema.
SERRAÇÃO DA VELHA:
Ocorria no meio do período entre o Carnaval e a Páscoa.
De noite, alguns homens, munidos de um cortiço velho e um serrote de carpinteiro, iam para junto da casa de uma idosa do lugar e, serrando o cortiço, um perguntava! oh fulana a quem deixas o pinhal X ? um outro respondia! é ao meu filho, filha, neta, neto etc... fulano. A ladainha continuava até que fosse testamentada toda a herança da velha serrada.
Duma maneira geral esta brincadeira era bem aceite pela visada, mas, às vezes, havia a tentativa de interrupção do testamento com o arremeço de coisas muito esquesitas.
-Documento do empréstimo, com a assinatura do Pároco daquele tempo – Exmo Senhor Prior Joaquim Borges Sobral-
-Capela da FOZ DO DÃO, ao lado está o Cemitério antigo-