quarta-feira, 27 de agosto de 2008

ALDEIA DA FOZ DO DÃO (I)

FOZ DO DÃO:

Para os mais jovens, com menos de 30 anos, o nome desta povoação nada ou muito pouco lhes dirá.

Para matar saudades aos mais velhos, lembrar os mais novos e deixar recordações aos vindouros, propomo-nos, tratar aqui algumas das caracteristicas da terra e das gentes, daquela que foi uma das mais bonitas aldeias do Concelho de Santa Comba Dão.

A Foz do Dão ficou submersa pelas águas da Barragem da Aguieira, pensamos que em Junho de 1980, quando do fecho das respectivas comportas.

Foi ela que, desaparecendo, pagou o preço mais elevado pelo desenvolvimento turistico do nosso concelho. Houve outras, mais pequenas, que tambem foram submersas; Senhora da Ribeira e Breda.

Ficava localizada a sul de Santa Comba Dão, entre os rios Mondego e Dão.

Tinha, na confluência dos rios, uma lindissima praia de areias finas e águas límpidas. Se hoje existisse, estamos certos, seria um destino turistico por excelência.

A Foz do Dão, na altura, era chamada a “SALA DE VISITAS DE SANTA COMBA DÃO”, apesar de não ter água canalizada, saneamento, nem electricidade.

Antes de ali ser construída, sobre o rio Mondego, a Ponte Salazar - inaugurada em 17 de Outubro de 1935 - as ligações entre os Concelhos de Santa Comba Dão, de Penacova e Mortágua eram feitas por uma grande barca (passavam nela animais de grande porte como bois e burros).
Era, também, nesta barca que várias mercadorias, designadamente sal, passavam do concelho de Penacova para o de Santa Comba Dão; mercadorias essas carreadas até ela e depois dela em carros de bois.
Depoís de concluida a contrução da Ponte, a barca grande foi desactivada e, a ligação ao Concelho de Mortágua passou a fazer-se através de um barco significativamente mais pequeno.


Tratava-se de uma aldeia essencialmente piscatória onde se situavam os primeiros pesqueiros fixos a partir da Figueira da Foz.


Vista parcial da FOZ DO DÃO, em 1965

4 comentários:

alter ego disse...

Parabéns ao autor do blogue. E ao mesmo tempo um forte e bem sentido agradecimento por deixar assim indelevelmente recordada, aqui e para o futuro,a nossa Foz-do-Dão, cuja terra e gentes amo de verdade.
O meu comentário, por enquanto breve, que o tempo mais não me permite, fica no texto que um dia escrevi e que abaixo transcrevo:



A Barragem da Foz-do-Dão

Muita gente terá conhecido – e dela se lembrará, por certo – uma pitoresca e bem antiga aldeia que ficava situada entre Penacova e Santa Comba Dão. Era na velha estrada, depois do Porto da Raiva, logo a seguir à característica ponte sobre o Mondego (que então se chamava Ponte Salazar), esta inaugurada em 1933, no tempo em que o Ministro da Obras Públicas era o Engº. Duarte Pacheco.

Situava-se a povoação a que me refiro no ângulo formado pela margem direita do Mondego e a esquerda do Dão, em cujo vértice confluíam os dois rios.

Por isso mesmo se chamava Foz-do-Dão.

Era uma aldeia típica das nossas pequenas terras da Beira, bonita de se ver, com todo o seu casario alegremente debruçado sobre os rios que tão generosamente constituíam, além da agricultura, importante modo de vida das suas gentes.

Além de ser margem daqueles dois rios, a Foz-do-Dão estabelecia também os limites dos concelhos de Santa Comba Dão, Penacova e Mortágua, dividia os distritos de Coimbra e Viseu e separava a Beira Litoral da Beira Alta.

Chamou-se em tempos Porto da Foz-do-Dão, quando o rio Mondego, então navegável dali até à foz, era relevante via de comunicação, nomeadamente no transporte de madeiras para jusante e de sal e outros produtos do litoral para o interior.

Quem dela se lembra, recordará certamente a excelente iguaria que era a lampreia do Carlos, ali pescada, o sável e os peixes do rio, óptimos petiscos que lá eram apreciados por quem a visitava ou por lá passava.

Esta aldeia foi sacrificada a favor da construção da barragem que hoje ali se vê e está agora submersa nas águas que esta represou.

Foi tomando-a aliás como ponto de referência que se desenvolveram os dois projectos que entre si disputaram a construção da Barragem: um, o chamado projecto do Caneiro-Dão, defendia que ela se construísse a montante, sem submergir a povoação; o outro, o projecto dito da Aguieira (apenas porque foi lá perto que foram feitas as primeiras sondagens), previa o desaparecimento da Foz-do-Dão, propondo a construção da Barragem logo a jusante da aldeia.

Este último, como se sabe, acabou por prevalecer.

E lá temos agora a barragem, com a sua imponente e bela albufeira e nela submersa a Foz-do-Dão, que sacrificou assim aquela terra, as suas gentes e a ancestral cultura daquele povo que de repente se viu pulverizado em pequenos núcleos familiares a assentar arraiais cada um em seu sítio diferente.

Não vejo que possa estabelecer-se alguma ligação da barragem com a povoação por cujo nome é conhecida, tanto mais que a distância que vai da barragem a essa povoação é bem maior do que a que separava aquela da Foz-do-Dão.


É certo que barragem propriamente dita é a sua estrutura de betão represadora das águas. Mas barragem é também mais comummente identificada com a própria albufeira que se forma a montante dessa estrutura de betão armado.

É mesmo essa albufeira, a extensão de água que ocupa e a quantidade que pode acumular que valoriza a barragem e lhe dá sentido, seja em termos energéticos e industriais, seja na perspectiva turística e ambiental.

E é no fundo dessa mesma albufeira que acabou por ficar para sempre esquecida a velha e pitoresca aldeia que se chamou Foz-do-Dão, assim eliminada da toponímia portuguesa.

Merecia por isso que, no mínimo, fosse lembrada, até porque imolou a sua própria vida e a continuidade da sua história, a sua existência, a sua cultura, tudo o que era, o que tinha e até alguns dos seus filhos à construção daquela barragem.

É por tudo isto que ainda não consegui entender porque é que lhe hão-de chamar, tão sem sentido, da Aguieira, em vez de ser chamada, como tão justamente devia ser, Barragem da Foz-do-Dão.


Alcídio Mateus Ferreira – Dezembro/1991. Publicado no jornal “As Beiras” de 03/12/1991

alter ego disse...

Queria enviar 3 fotografias da Foz do Dão que aqui tenho, mas não sei como fazê-lo.

Anônimo disse...

Sou bisneto, neto e filho de gentes da Foz do Dão, são já muitas as saudades dos tempos em brincava junto ao rio. Foi com muito orgulho, quase com uma lagrima que descobri este cantinho de saudade na net. Foi muito bom descobrir historias dessa gente, saber que o meu bisavô cantava na capela. Pudesse o tempo voltar a trás.
Parabéns desde já pela ideia.
Podem assim os mais novos recordar um pouco da infância e os mais velhos deliciar-nos com as suas histórias.
José Joaquim Duarte Santos

Unknown disse...

Mas que belo "blog" que encontrei!!!Conheçi a Foz Do Dão enquanto miudo,sou sobrinho do falecido Jaime "moleiro" e do Alberto "moleiro" do Vale do Barco.Lembro-me muito bem da casa do meu Tio,na Foz do Dão...e das pescarias com o meu Pai na moenda do meu Tio....que belos tempos de infancia!Parabens ao criador deste blog!